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<<<< 25.08.2024

hoje eu gostaria de comentar sobre o livro “apanhador no campo de centeio” do j.d. salinger.

estou ciente de como esse livro tem uma má fama por alguns cantos da internet por diversos motivos. acho que o principal dele se encontra centrado na figura de holden caulfield, um adolescente que não sabe lidar com as mudanças eminentes na sua vida e foge delas. para muitas pessoas o personagem é simplesmente um adolescente mimado que possuí uma atitude insuportável e esse ponto de vista é compreensível, mas minha história com esse livro e personagem é um pouco mais pessoal.

nunca fui uma pessoa ligada em literatura. apesar de gostar bastante de histórias em quadrinhos e animações, romances nunca foram os meus favoritos. em um momento da minha adolescência uma amiga me enviou uma mensagem dizendo que eu deveria, sem falta, ler o livro do qual estamos falando já que, segundo ela, eu “agia de forma muito parecida com o protagonista”. não é necessário dizer que isso me deixou bastante curioso e logo no dia seguinte fui até a biblioteca municipal da minha cidade pegar o livro emprestado para que pudesse ler durante aulas vagas e em casa. não sei ao certo quanto tempo demorei para ler, mas garanto que foi excepcionalmente rápido para os meus padrões. esse foi meu primeiro contato com a obra.

em um primeiro momento, como um adolescente, achei o livro fantástico, realmente me identifiquei com a figura do holden caulfield. eu também pensava estar passando por aquela mesma situação, estava prestes a terminar meu ensino médio em uma escola que eu não gostava tanto, julgava muito as pessoas ao meu redor como fajutas e não conseguia pensar muito além daquele momento.

claro, na minha primeira leitura, como quase sempre é o contato com algo novo, minha interpretação foi algo bastante superficial. não conseguia enxergar os defeitos do holden pois, para mim, a verdade dele era a mesma verdade que a minha. de certa forma tenho um pouco de vergonha de pensar assim, mas não posso me culpar tanto. pelo contexto que me encontrava não é inimaginável pensar que as coisas se encaixariam tão bem.

passado alguns anos, peguei para ler o livro de novo. queria rever aquela história que tanto havia me cativado em momentos anteriores. queria buscar um norte nos pensamentos de holden, algo que fizesse sentido novamente. contudo, ao terminar a segunda leitura, me encontrei ainda mais perdido do que a primeira vez. estava em um momento bastante deprimente da minha vida, não tinha perspectivas de futuro, mas também não tinha mais aquela raiva adolescente que menosprezava aqueles ao meu redor que pareciam estar mais bem encaminhados do que eu.

chegando próximo ao final do livro, me deparei novamente com holden e sua irmã no parque onde, após a discussão sobre fugir, a garota diz que fugirá com o irmão…holden não consegue aceitar isso e durante essa discussão com a irmã ela o manda calar a boca pela primeira vez, essa teimosia da irmã o atinge como uma bala. eles se dirigem ao zoológico e em seguida vão para o carrossel onde a irmã decide brincar. observar a sua irmã crescendo, mudando e, no final das contas, continuando sendo quem é, move o garoto.

não consigo explicar exatamente meus sentimentos. palavras nunca foram meu ponto forte, apesar de ser um aluno de letras. mas esse pequeno momento da história, apenas poucas páginas entre as centenas que se encontram livro ressoaram em meu coração. consigo imaginá-la de forma vívida. mudanças estão fadadas a acontecer e, muitas das vezes, você não tem controle sobre elas. quando ela pega o chapéu de caçador e devolve para o irmão para que ele use por mais um tempo para se proteger da chuva, no meu ponto de vista, é phoebe dizendo para o seu irmão pensar um pouco mais, apesar de estar passando por um momento turbulento, ele não deve fugir nem se apressar. aguentar a chuva de filha da puta que estava caindo, refletir mais sobre o que está acontecendo e falar sobre o assunto.

sei que eu me perdi um pouco no final da explicação… perdão. gostaria de falar que, desde então, continuo relendo o livro de forma quase que anual. sinto uma simpatia sincera por holden caulfield. seus problemas já foram meus problemas e a solução que tirei do livro foi a de abraçar as mudanças e não fugir daquilo que eu não posso controlar. muitas coisas podem acontecer em um pequeno período de tempo. todas as fases da vida são importantes para o desenvolvimento de um ser humano. eu jamais teria refletido sobre essas coisas se não tivesse pego esse livro para ler e eu sou grato por isso. apesar de não saber exatamente todo o percurso ou como os meus problemas serão resolvidos, eu tenho certeza que eles eventualmente vão se resolver. não digo isso de uma forma melancólica, mas sim esperançosa. acredito, no duro mesmo, que minha única opção nessa vida é vencer, vencer as dificuldades, as dúvidas, o medo. e é por isso que gosto de assinar todas as publicações desse site com a mesma mensagem. venceremos.

avatar que consiste da parte superior de uma cabeça com pequenos chifres monocromáticos.

me chamem de snyte.

sou um brasileiro residente do estado do paraná.

sou estudante de japonês e gosto bastante de animações.

esse é meu refúgio para o final dos dias da internet centralizada.